Protagonismo e participação social: potencialidades
No cenário atual, a sociedade costuma ver a juventude como sinônimo de problema e como motivo de preocupação quanto ao futuro do País. São duas as imagens da juventude que predominam hoje nos meios de comunicação e na opinião pública. De um lado, nas propagandas e nas novelas, estão os jovens bonitos, saudáveis, alegres e despreocupados que oferecem modelos de vida e de consumo aos quais poucos jovens reais têm acesso. De outro, nos noticiários, estão os jovens envolvidos com problemas de violência ou comportamentos de risco, que são, na maior parte das vezes, negros e oriundos dos setores populares. Essas duas imagens polaresconvergem para um tipo de senso comum que considera a juventude individualista, consumista e politicamente desinteressada. Mas esses estereótipos não dão conta da diversidade de experiências da juventude brasileira, assim expressa:
· por um lado, é verdade que poucos ainda participam de ações sociais:
(a) segundo pesquisas da UNICEF, 65% dos adolescentes (12 a 17
anos) nunca participaram de atividades associativas e/ou comunitárias;
(b) de acordo com survey nacional recente, realizado pelo Projeto
Juventude do Instituto Cidadania, entre jovens de 14 a 24 anos de todo
Brasil4, apenas uma minoria atua formalmente de movimentos
estudantis, sindicatos, associações profissionais e partidos;
· por outro lado, demonstram um desejo de agir socialmente: parte
significativa dos entrevistados pelo Projeto Juventude (mais de 60%,
entre os mais pobres) disse que gostaria de ter oportunidade de
participar de ações desenvolvidas em contextos sociais, comunitários e
cidadãos. Essa predisposição não resulta do acaso, mas tem como
referência as diferentes maneiras pelas quais grupos jovens vêm
expressando demandas, necessidades e visões de mundo para agir no
espaço público.
Entre as novas formas de participação juvenil podemos destacar: a) pertencimento a grupos (pastorais, redes, ong’s e outras organizações juvenis) que atuam para transformar o espaço local, nos bairros, nas favelas e periferias; b) participação em grupos que trabalham nos espaços de cultura e lazer: grafiteiros, conjuntos musicais, de dança e de teatro de diferentes estilos, associações esportivas; c) mobilizações em torno de uma causa e/ou campanha:grupos ecológicos, comitês da Campanha contra a Fome, ações contra a violência e pela paz, grupos contra a globalização etc; d) grupos reunidos em torno de identidades específicas: mulheres, negros, homossexuais, pessoas com necessidades especiais etc.
Assim, mesmo sem desconhecer os obstáculos de diversas ordens que devem ser ultrapassados para motivar o engajamento social dos jovens, qualquer social a eles dirigido deve reconhecer e apoiar as múltiplas formas de atividade e criatividade dessa faixa etária, e contribuir para ampliá-las.
A juventude é a fase da vida mais marcada por ambivalências, pela convivência contraditória dos elementos de emancipação e de subordinação, sempre em choque e negociação. Mas essa também é a fase de maior energia, generosidade e potencial para o engajamento. Portanto, um programa dirigido aos jovens deve tomar como seus tanto os desafios que estão sendo colocados para essa geração, quanto sua forma inovadora de encontrar respostas aos problemas sociais, chamando-os permanentemente para o diálogo e para a participação cidadã.
4 Para maiores informações ver www.projetojuventude.org.br